Um pouco mais sobre o Complexo do Alemão
Créditos do texto: WikiFavelas
13/06/2023 13h37
História do Complexo
O Complexo do Alemão é um dos bairros mais jovens do Rio. Localizado na Zona Norte, na Serra da Misericórdia, subúrbio da Leopoldina, foi criado, em 1993, pela lei nº 2055, que alterou os limites de Olaria, Ramos, Bonsucesso, Inhaúma e Higienópolis. Com uma população de cerca de 180 mil habitantes, o bairro, hoje, é formado pelas comunidades de Nova Brasília, Reservatório, Alvorada, Morro das Palmeiras, Casinhas, Fazendinha, Canitá, Pedra do Sapo, Mineiros, Morro do Adeus, Morro da Baiana, Matinha, Grota (também chamada de Joaquim Queiroz) e Morro do Alemão. Esta última localidade emprestou seu nome ao Complexo, muito embora o personagem que inspirou a alcunha fosse, na verdade, polonês. Antes da colonização portuguesa, as áreas próximas à região eram habitadas pelos índios Tamoios, que viviam às margens do Rio Timbó – nome dado em função do cipó “timbó”, utilizado para envenenar a água e facilitar a pesca. Muito após o extermínio dos Tamoios, os jesuítas se estabeleceram na região – já no século XVIII -, dando origem à Fazenda de Inhaúma e seus engenhos. Expulsos os jesuítas, em 1760, suas terras foram desmembradas em várias fazendas que deram origem aos atuais bairros de Ramos, Bonsucesso, entre outros.
A ocupação da Serra da Misericórdia ocorreu no início do século XIX, com Francisco José Ferreira Rego. Por ocasião de sua morte, os herdeiros venderam as terras para Joaquim Leandro da Motta. Esse, por sua vez, dividiu sua propriedade em grandes lotes, vendendo um deles para Leonard Kacsmarkiewiez, polonês refugiado da Primeira Guerra Mundial.
O polonês, de nome difícil, logo foi apelidado pelos cariocas de “alemão” e a área que era de sua propriedade passou a ser conhecida como o Morro do Alemão. Ainda nos anos 1920, se instalou, na região, o Curtume Carioca e, na sequência, muitas famílias de operários se instalaram nas imediações. A abertura da Avenida Brasil, em 1946, acabou por transformar a região no principal polo industrial da cidade.

Imagem aérea da região da Penha, onde hoje parte do Complexo do Alemão é localizado. Foto: Caiqueazael / Wikifavelas

aspecto da Rua Joaquim de Queiroz, no Complexo do Alemão. Os moradores carregam latas d'água. Na rua havia uma bica pública. Nos comentários, uma imagem mais recente de um ângulo aproximado do local. A pesquisa é da página Memórias do Subúrbio Carioca e o acervo é do Arquivo Nacional. Foto: facebook/riosuburbio
A partir da década de 1940, iniciou-se a ocupação das áreas das atuais comunidades de Nova Brasília e Itararé. Na década de 1950, a ocupação se ampliou e surgiram as comunidades dos Morros do Alemão, da Esperança, dos Mineiros e do Relicário. Em 1961, foi ocupado o Morro da Baiana e, a partir dos anos de 1970, surgiram a Fazendinha, o Reservatório de Ramos e o Parque Alvorada - Cruzeiro (1982). No final da década de 1980, o conjunto de favelas que ocupam o leste da Serra da Misericórdia e suas adjacências viria a formar a XXIX Região Administrativa Complexo do Alemão. O bairro do Complexo do Alemão compreende toda a região administrativa, ocupando 437.880 m². O ponto culminante dos morros locais está a 138m de altura em área com cobertura florestal. Foi delimitado pela Lei Nº 2055, de 09 de dezembro de 1993, alterando os limites dos Bairros de Olaria, Ramos, Bonsucesso, Inhaúma e Higienópolis.
Apesar da rede de abastecimento de água chegar à maioria das casas, ainda há moradores
que se abastecem de poços artesianos e de algumas nascentes de água locais. Embora o
Censo 2000 registre que 84% dos domicílios de favela do bairro possuem rede de
esgotamento sanitário, podem ser constatadas áreas específicas onde há valas a céu
aberto e despejo de esgoto in natura nos corpos hídricos.
O comércio e a indústria cresceram e diversificaram-se, mas a ocupação desordenada dos
morros adjacentes, que teve seu boom no primeiro Governo de Leonel Brizola, entre 1983 e
1987 acabou por dar lugar às favelas do Complexo do Alemão. Durante 30 anos as terras
eram apenas para uso pessoal e abrigava o Curtume Carioca, mas a ocupação começou em 9
de dezembro de 1951, quando Leonard dividiu o terreno para vendê-lo em lotes. Segundo
pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), o povoamento
urbano da Serra da Misericórdia foi iniciado a partir de várias formas de ocupação: de
loteamentos informais ao aluguel de terrenos (também chamado de “aluguel de chão”), da
ocupação consentida à invasão coletiva.
Os hectares comprados pelo IAPC também foram objeto de ocupações informais. Seus
primeiros moradores eram pessoas que tomavam conta das terras do Instituto e que tiveram
permissão para construir suas casas nas áreas mais altas. Esses moradores acabaram
consentindo que outras famílias se instalassem no local, desde que as moradias fossem
erguidas na parte alta do morro, em meio ao capim alto, para que não fossem vistos.

Complexo do Alemão. Foto: Tomaz Silva / Agência Brasil
Com o passar do tempo e com a ausência de uma política habitacional que respondesse às
necessidades de moradia da população, o próprio IAPC passou a permitir, por meio de cartas
informais, que seus funcionários e comerciários construíssem casas nas terras da antiga
Fazenda Camarinha. Mas o grande adensamento populacional do Complexo aconteceu nas décadas
de 1960 e 1970, quando várias indústrias – como a Nova América, a Marialva Têxtil, a Cica, o
Café Capital, a Castrol e muitas outras se estabeleceram nos arredores. Nesse período,
passaram a ocorrer as invasões organizadas e coletivas. Segundo o relato de um morador da
comunidade de Nova Brasília, na época da invasão, parecia até uma guerra. De noite ninguém
dormia porque só se escutava o barulho do martelo batendo. O pessoal construía seus barracos
de noite, pois quando a polícia chegava no outro dia ficava mais difícil de derrubar, porque
tinha família dentro, todos se ajudavam, porque ninguém tinha dinheiro.
Com as invasões, surgiram também as primeiras associações de moradores do Complexo. Elas tanto passaram a organizar as ocupações, a fim de deixar áreas livres para os arruamentos, por exemplo, como gerenciar questões relacionadas à infraestrutura. Algumas também começaram a promover a venda de “cavas de terra”, ou seja, de terrenos cavados nas encostas. Apareceu ainda a figura do “faveleiro”, nome dado àquele que se apossava de um lote de terra com o objetivo único de revendê-lo, posteriormente. Ainda há áreas de mata e pontos de nascentes de rios que são usados como fonte de água. Todavia, logo após a nascente, os rios já se tornam valões de esgoto, devido à falta de rede canalizada. Boa parte da serra foi destruída devido às pedreiras, muito comuns a partir da metade do século XX. Hoje em dia, tal empreendimento ainda é autorizado, mesmo a Serra da Misericórdia sendo considerada Área de Proteção Ambiental. Na interseção entre o Alemão e a Penha, a francesa Lafarge opera uma pedreira com autorização do INEA, por não atingir os lençóis freáticos da região

Teleférico do Complexo do Alemão. Foto: Caiqueazael / Wikifavelas
A região sempre foi conhecida como uma das mais violentas da cidade. No ciclo de governos
Petistas, foi alvo de um dos projetos do Programa de Aceleração do Crescimento, em parceria
entre os governos federal e o Governo do Estado do Rio de Janeiro, em que foram previstas
melhorias viárias, moradia e de infraestrutura em geral, de modo a livrar o bairro e seus
arredores do estigma da favelização e da violência. Algumas saíram do papel, como o
Teleférico, e outras foram engavetadas